A loucura traz consigo a problemática da definição de seu conceito. “A crermos em muitos pensadores contemporâneos, a loucura não é um fenômeno fundamentalmente oposto ao da chamada racionalidade ou normalidade.” (Frayze-Pereira, 1984, p. 8). Mas e o que é racionalidade ou normalidade?
Entre as definições de racional no dicionário da língua portuguesa temos: “Que possui como alvo a razão, sua maneira ou suas implicações.”. E a definição de normal é: “Que ocorre naturalmente ou de maneira habitual; natural, habitual.”. Sendo assim, racionalidade é o exercício da razão e normalidade é algo que não foge ao seu estado regular. A loucura é caracterizada pela manifestação de comportamentos contrários aos padrões comportamentais considerados normais dentro de uma sociedade.
Muitos convivem com a loucura, mas ainda assim há dificuldade para falar sobre ela na primeira pessoa, em contra partida não é difícil falar da loucura na terceira pessoa, isso é, falar da loucura do outro é mais confortável!
O fenômeno da loucura não consiste apenas em reproduzir falas sem nexo; imitar o comportamento ou expressões exteriorizadas por um indivíduo; ousar falar ou fazer coisas que muitos não têm coragem. Ela é entendida como manifestações do inconsciente, fazendo-se necessário observar, escutar e investigar, de modo consciente, o outro e até mesmo o “eu”.
E talvez por ter feito tais investigações de si é que Freud tenha sido considerado louco por alguns, pois ele ousou falar e fazer o que ninguém em sua época falava ou fazia. Ele observava, investigava, experimentava e explicava comportamentos que ninguém ousava explicar como ele.
Possivelmente, as reações de seus contemporâneos lhe serviam de ponto de partida para novas investigações e assim retomava e aprofundava seus estudos e experiências sobre o inconsciente. Não foi por acaso que se tornou “o pai da psicanálise”.
Bom, é possível que essa loucura que dizem de Freud não seja patológica e nem só dele, mas trata-se da loucura pela busca de si mesmo e de suas verdades, o que pode causar angústia e até mesmo desencanto pessoal.
Ao longo da história da humanidade observamos que a sociedade sempre buscou esconder, vigiar, ignorar, reprimir, corrigir, e até punir de alguma maneira, pessoas que apresentam patologias enquadradas como loucura. Por outro lado a loucura foi e continua sendo tema explorado pelo cinema, teatro, pintura, fotografia e por outros tipos de Arte. A partir dos séculos XIX e XX mudaram os nomes e classificações da loucura.
No século XX as neuroses foram separadas das psicoses; a paranoia da demência e até aos tempos atuais as classificações e causas das patologias mentais continuam a surgir e também a maneira de tratá-las. (Camargo, 2003).
É possível que não tenhamos um único conceito para loucura. Pois, definir um conceito para loucura talvez seja sempre um problema por envolver variantes como, por exemplo: cultura, contexto histórico social, saberes e outras. Loucura pode ser apenas fazer algo inusitado, fazer de modo diferente o que a maioria das pessoas fazem igual. E não seria isso também uma patologia aos olhos de muitos?