Para Freud, as forças motivadoras primárias na análise são o sofrimento do paciente e o desejo de se curar da angústia que o acomete. Dessa forma, a pessoa que procura ajuda o faz porque está em sofrimento, em função de que alguma coisa a perturba ou a incapacita. Há, portanto, uma queixa, um pedido de ajuda que a conduz a buscar a resolução dos seus conflitos.
No início do tratamento, a relação entre o analista e o analisando vai se construindo, passo a passo, a partir da demanda trazida pelo paciente. Cabe ao analista auxiliá-lo a esclarecer aquilo que desconhece, que subjaz no seu inconsciente, ou daquilo que é incapaz de traduzir em palavras. Ou seja, cabe ao analista descortinar o que está escondido e reprimido. Para que isso ocorra, é importante que se estabeleça uma relação de confiança, mesmo de “cumplicidade” entre eles, no sentido de levar o paciente a acreditar, num primeiro momento, que o analista será a pessoa que saberá como aliviar suas angústias.
Dessa forma, o trabalho da análise consiste em o analista ir identificando os conteúdos trazidos pelo analisando, aparentemente, desconectados, o que Freud denominou de fragmentos das lembranças perdidas. Segundo o autor, estas lembranças produzem ideias passíveis de serem descobertas a partir da narrativa do sujeito, quando este traz para a análise as suas experiências de vida resultantes dos seus impulsos afetivos que, por alguma razão, foram reprimidos. Esta jornada se constitui no movimento de converter a história vivida no passado numa vivência presente, uma vez que ela já não é passado. Na verdade, sempre esteve e está no momento vigente e para que seja compreendida em sua atualidade deve ser ressignificada. Assim, o passado será atualizado no presente, sendo necessário revivê-lo na transferência, ou seja, repetindo-o na análise.
No processo psicanalítico é muito importante ampliar o nível de consciência do paciente, uma vez que os atuais sintomas causados pela angústia são consequência desses sentimentos reprimidos, ou seja, os conteúdos “esquecidos”, mas não superados.
A psicanálise, portanto, se propõe, justamente, a poder ir, aos poucos, trazendo esse conteúdo inconsciente para o nível consciente, desvelando as principais questões trazidas na análise. A finalidade é auxiliar o paciente a conhecer sua estrutura psíquica e tudo que resultou desta construção até o momento. A partir dessa consciência, se espera que o paciente possa lidar com esse aparelho psíquico e que tenha condições de reconstruir sua história. Tal processo de autoconhecimento ocorre a partir da escuta e das intervenções do analista que, respeitando o tempo e a subjetividade do analisando, passa a auxiliá-lo a ampliar os significados ocultos daquilo que é trazido para a análise. Nesse processo, a intenção é a de compreender a queixa e o que envolve o desejo de se libertar dela.
Em síntese, embora a principal motivação da pessoa que procura por um tratamento psicanalítico seja os sintomas que lhe estão causando sofrimento, o sentido e a dinâmica da psicanálise vai além da demanda pela cura. Ela visa auxiliar o indivíduo a aumentar o conhecimento sobre si. Busca extrair a essência daquilo que se é em consequência das experiências de vida pelas quais passou.