Acredito que não seja novidade que estamos sujeitos a negarmos aspectos nossos para não termos que lidar com eles. Acontece que tais aspectos não deixam de existir em nós, apenas mudam sua forma de expressão.
Je et Moi, o Sujeito do inconsciente e o Eu (tema que foi abordado no primeiro texto desse blog com o título “Não, você não pensa sozinho, você pensa em dupla”) é a expressão técnica da possibilidade que temos de estabelecermos um distanciamento entre o pensamento e a ação. Afinal de contas, o nosso Eu racional só se mostra capaz de lidar com aspectos nossos que aceitamos reconhecer.
Enquanto pensamos com aqueles aspectos que aceitamos em nós mesmos, mantemos sobre nós mesmos, opiniões que não abarcam todas nossas atitudes. Aqueles aspectos negados ganham expressão, justo no campo do agir. Esses aspectos, estão entrelaçados a impulsos, que clamam pela sua descarga, esses mesmos impulsos são reprimidos logo depois da negação, mas não deixam de clamar pela sua descarga, então, sua expressividade original pode ser deformada (inconscientemente), como que para se disfarçar e conseguir sua expressão e assim conseguem nos fazer trilhar caminhos que, muitas vezes, nos prejudicam sem que percebamos, estão, inclusive, por trás de alguns sintomas, que são no fundo, uma deformação do impulso original. Uma pessoa poderia, por exemplo, demonstrar escárnio por uma imagem da virgem Maria e xingá-la agressivamente, sem um motivo racional ou aparente, mas por trás desse comportamento haver um ódio pela sua cônjuge que fora negado e reprimido pelo sujeito, mas como o ódio não deixa de existir porque o sujeito não aceita a possibilidade de sentir raiva pela mesma pessoa que ama, o inconsciente disfarçou a imagem da cônjuge substituindo-a pela imagem da virgem Maria (talvez, porque para aquele sujeito, sua cônjuge fosse tão sagrada quanto) e assim o ódio ganha sua expressão escapando ao controle da razão.